sexta-feira, 15 de junho de 2012

Manancial de cultura no Sertão

Um encontro com artistas e pesquisadores no Espaço Nordeste, em Euclides da Cunha

O Sertão ainda não virou mar, como profetizou Antônio Conselheiro, líder do movimento antirrepublicano de Canudos, mas, quando na antiga sede de uma cadeia pública vê-se brotar uma casa de fomento à cultura, pode-se reconhecer a fertilidade das artes e costumes sertanejos.

No Espaço Nordeste, inaugurado em 2011, acontecem oficinas de artesanato regional, programas de leitura e de inclusão digital, além de eventos culturais das mais diversas linguagens. Ponto de encontro entre comunidade e artistas, foi lá que a equipe do FUNCEB ITINERANTE pôde conhecer um pouco mais do trabalho de alguns sertanejos fortes, como bem definiu o jornalista e escritor que dá nome à cidade.

Sala de leitura do Espaço Nordeste

Cláudia Bitencourt é paulista de nascimento, mas há 17 anos tornou-se cidadã euclidense. Prova do seu sentimento de pertencimento à terra é seu trabalho, exposto no Espaço Nordeste, intitulado “As Faces do Sertão nas Xilogravuras de Cordel: Cantos e Contos”. As esculturas em MDF fazem uma releitura tridimensional de xilogravuras de cordel de Severino Borges e Costa Leite, que remetem ao universo imagético sertanejo.

Exposição “As Faces do Sertão nas Xilogravuras de Cordel: Cantos e Contos”, de Cláudia Bitencourt

A artista visual, que também produz sob encomenda para decoração de espaços e residências, planeja outra coleção por ocasião da Semana Cultural dos Sertões, que acontece em novembro, em Euclides da Cunha, e neste ano homenageia o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga.

A artista visual paulista Cláudia Bitencourt mora em Euclides da Cunha há 17 anos

José Dionísio Nóbrega, autor de “Euclides da Cunha e o Sertão de Canudos (Ensaio sobre o Povoamento da Região)”, é administrador por formação, mas há mais de 30 anos desenvolve pesquisas sobre os episódios históricos em torno não apenas dos embates entre os seguidores de Antônio Conselheiro e as tropas republicanas, mas também da formação e da memória dos povos das redondezas.

O interesse pelo tema vem desde a infância, das viagens às feiras de Canudos acompanhado do pai, vendedor de carnes. Para ele, “o resgate de Canudos veio do alto para baixo e de fora para dentro”, e é preciso contar aspectos ignorados pela história oficial e, inclusive, por Euclides da Cunha em “Os Sertões”, obra que é referência sobre os embates separatistas, sobre a qual José Dionísio aponta incorreções.

O escritor José Dionísio Nóbrega

De personalidade espirituosa, o pesquisador conta que tem quatro livros em processo de finalização e planeja lançar dois CDs, um deles com repertório em francês, com a tiragem total de três mil exemplares, para distribuição entre amigos. “Sou mais humilde que Roberto Carlos e Caetano Veloso”, brinca.

Manoel Neto é professor do curso de História da Universidade do Estado da Bahia e coordena o Centro de Estudos Euclides da Cunha. A sua passagem pelo Espaço Nordeste se deu por ocasião da exibição do documentário “Vaqueiros Canudos”, cuja direção e roteiro divide com o fotógrafo Miguel Teles. O filme retrata “a cosmovisão do vaqueiro, a religiosidade, os costumes, a vida em família, as agonias e as relações de trabalho”, como explica Manoel. Elementos culturais como as festas e encontros, a produção de peças de couro nos curtumes, os aboios, cânticos e rezadores compõem o registro, com fotografia de Roque Araújo e narração do jornalista José Raimundo.

Manoel Neto ao lado de José Dionísio Nóbrega, o fotógrafo e cineasta Antenor Júnior e Daniel Carneiro, assessor da Diretoria de Audiovisual da FUNCEB

A obra, que recebeu apoio da Diretoria de Audiovisual da FUNCEB (Dimas), foi lançada em 2007, na Sala Walter da Silveira, em Salvador. Reconhecido com menção honrosa no Festival Nacional de Cinema e Vídeo Rural de Piratuba, que acontece em Santa Catarina, “Vaqueiros Canudos” já foi exibido na Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro; no Festival de Aboios de São José dos Ramos, da Paraíba; e até em um encontro de canudenses que moram em São Paulo. “Já me ofereceram cópia pirata do documentário no camelô, antes mesmo de ele ser lançado no cinema”, conta Manoel.

Exibição do filme “Vaqueiros Canudos” no Espaço Nordeste

3 comentários:

  1. Muito interessante a matéria. O ponto de cultura Espaço Nordeste apresenta os traços da cultura regional baiana e os temas de interesses do povo euclidense.

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  2. É bonito de se ver a cultura euclidense. Parabéns à FUNCEB pela matéria.

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